É uma pedra!!!

Ao jeito de comemoração do aniversário do extinto VDM, deixo aqui um relato duma voltinha que compuz para lá postar.
Não sou de escrita fácil, por isso apreciei a envolvência que me fez dar-me ao trabalho de ter qualquer coisa para apresentar.

Nota: Dependendo da resolução do ecrãn, as imagens poderão ter que ser expandidas para serem vistas na totalidade.

-------------------------------------------- É UMA PEDRA-------------------------------------------------



Mas é mesmo!
Não dessas que estão a pensar, mas muitas outras em que a diferença não é assim tanta.
Se nos deixarmos levar pelo que nos vai acontecendo, ouvirmos as pessoas com as suas estórias e procurarmos ver para além do evidente, Monsanto brinda-nos com as mais gratas sensações.
São as ideias, são as coisas e mais a imaginação, que imagine pouco, apenas se lhe pede que deixe de empatar a percepção de outras realidades.
Num encontro de amigos saiu um convite para aparecermos no Minho, em São João d'Arga no último fim-de-semana de Agosto. Falámos também de que tinham gostado de conhecer Monsanto e de como os tinha impressionado aquela terra onde pararam por acaso.
Como também não conhecia marquei-a como um dos próximos destinos.

O que ouvimos de São João d'Arga parecia engraçado; festa da rija, bandas de música ao desafio a animar, povo com fartura, comes e beeeebes e a bebida inspiradora que entretinha os peregrinos enquanto a fé os aguentasse...aguardente com mel.
Pelo fígado também se alcança o Céu...
Pensando melhor...fim de semana queeeente, 400Km para cima no Sábado, glup, glup, glup...uma ressaca medonha no Domingo e mais 400km em transe para baixo.
Nã, nã! Consideramos os nossos amigos mas vamos a Monsanto com eles na memória.

Sábado, de manhã cedo, vestidos para o fresco.
Figuras negras em cima de nuvem azul.
Vamos devagar, gozar a paisagem, almoçar pelo caminho e chegar a meio da tarde. Como não tenho música nem quero intercomunicadores, muitas vezes sou o meu "Walkman". Canto, assobio, toco todos os instrumentos, o mesmo trecho dá-me para uma hora e faço a banda sonora para a paisagem que se apresenta.

Reparei por acaso que totalizador do conta Km’s marcava sessenta e cinco mil setecentos e qualquer coisa...OLÁÁÁ…temos número.
E de que maneira, este é daqueles que lembra muita coisa...
Passou a estar presente a partir daí o encontro com o "Avô do Chifrudo".
Não é que acredite nessas coisas ou que me preocupe muito ou pouco, antes pelo contrário.
Queria passar mais tempo na paisagem da Beira Interior, sentir a Serra acastanhada e aflorada de calhaus, dificultando a vida aos que lá vivem e dando realce aos pequenos bosques que surgiam.

As árvores à borda da estrada, corredores de sombra, precioso resguardo dos antigos viajantes de quando as distâncias se mediam em dias.


Perguntei numa bomba em que reabasteci, onde se comia muito, bom e barato por ali. Indicaram-me a Quinta da Bigorna. Seja. Para lá vamos. Um complexo em crescimento que será um pequeno oásis numa paisagem imensa. Agradável surpresa nos aperitivos. No meio das manteigas e queijos plastificados um “fundinho” de azeite. Enquanto houve pão e azeite... que regalo. O resto ficou lá.
Um tinto da região, um ensopado de borrego honesto e uma bela mousse de manga providenciaram um saboroso reabastecimento para os nossos depósitos que já estavam quase vazios.

Ansiosos por Monsanto, íamos apreciando a sua chegada.


O que gostei daquela torre sem saber o que me esperava. Antes, parámos na Relva para nos refrescar. No grande largo apontámos para o toldo que nos daria sombra, uma fresquinha e ainda uns pêssegos que nos saltaram aos olhos.
Estavam paradas umas quantas motas, sem gente por perto o que nos fez pensar que numa tasca qualquer estariam em amena digestão uns quantos bem-dispostos a aproveitar a sombra e encher a tarde de histórias e gargalhadas.
À sombra duma árvore estavam uns maduros a bater umas cartas. Perguntei-lhes onde se podia dormir por ali.
- Lá em cima arranja com facilidade.
Óptimo, para cima vamos...
Entrámos em Monsanto a abrasar, levei a mota até onde pude, parei-a numa sombra junto a um pequeno miradouro com um assento corrido de pedra onde estavam dois homens sentados.
De dentro do capacete perguntei se ali a mota incomodava. Ouvi o que precisava.
- Esteja à vontade, não incomoda nada.
Figuras de negro em nuvem azul saem para o chão começando a libertar-se dos pesados artefactos.
Os espectadores assistem à metamorfose que revela dois seres parecidos com eles. Do fato completo à T-shirt, calções e chinelos foi um instante. Ficou tudo em cima da mota enquanto as temperaturas se equilibravam e se atenuava a estranheza.
- Então e de onde é que vêm os meus amigos?
- Somos do pé de Lisboa, da margem Sul.
- Oh…trabalhei por aí muitos anos.
- Há por aí uma terra que tinha um belo vinho...ai…como é que se chama? Disse-lhas todas com esses pergaminhos e não conseguia encontrar a que ele conhecia.
- Então e que idade é que me dão?
- Uhmmm…você é aí homem para setenta anos.
- Qual quê, setenta e nove e aqui pás curvas.
- Olhem lá para aqueles penedos e vejam lá se não vêem uma cara com a boca aberta?
Foi aqui o ponto da mudança!
O momento da pedra que nos acompanhou o resto da viajem. Não sei o que teria sido sem este momento. Caminho sem regresso. As pedras falavam mais alto.
- Mas está falar daquela cabeça, à esquerda que está a sair das rochas?
- Não, é uma com a boca aberta, olhem, reparem lá se por aí a baixo não vêem também as pernas.



Aquele crânio imenso conseguia identificá-lo.
Como não consegui ver o “boca aberta” recorri à tecnologia.
Mostrei-lhe a imagem recolhida e apontou logo a figura.



- Ah… siim, pois, pode parecer qualquer coisa, com outra luz talvez...
- E então a cara da criança ao pé daquela árvore?
- Onde?
- Ali, aquela árvore, por cima... e acima está outra com um chapéu.
(tentem reduzindo muito o tamanho da imagem, vendo à distância…)



Aquilo estava engraçado, eu a ver se apanhava o 66666, com os todos os cuidados para não o perder e começam a sair caras e cabeças das rochas quando pensava que ia ver casas e paisagens e mamar umas bejecas.
- Mas esperem lá...olhem ali para cima para a direita e digam-me lá se também não vêm aquela cabeça com ar carrancudo.



Estava lixado. Ia passar o fim-de-semana a ver figuras em todo o lado.
É como quando numa feira se passa por um palco com música pimba, ficamos agarrados a uma musiqueta qualquer que não nos sai da cabeça " Mas quem será...".
Já chegava de pedras e perguntei ao gentil senhor que me encheu a cabeça de pedras se sabia onde se arranjava um quarto.
- Olhe, fale com aquele que ali vem que ele arranja-lhe de certeza.
O senhor juntou-se ao grupo, simpático, sorridente, a pegar-me no braço sem forçar ou criar desconforto, era um gesto natural de aproximação, um reforço da sua boa vontade em arranjar um sítio para dormirmos. Digamos que era um empresário simpático.
Voltámos à estória das idades e do aspecto. Nestas conversas ficamos sempre a ganhar na auto-estima, e no tempo pelo menos meia dúzia de anos.
A mim tiraram-me quatro ou cinco, já é bom.
Normalmente digo que passei muito tempo no mar e é o ar salgado que conserva.
Não lhes disse a verdade, que era dos copos e da má vida.
Não me atrevi. A receita poderia ser-lhes fatal.

Fiquei a saber que havia lá um indivíduo que também tinha andado na Marinha.
Óptimo.
É sempre bom encontrar um camarada com quem provavelmente já nos cruzámos em qualquer situação. A Marinha é pequena mas encontram-se marujos em todo o lado. Como noutros casos já se goza de créditos à partida e este ainda por cima tinha um restaurante...
O Sr. Peixoto já passava dos oitenta, era cardíaco e mesmo assim não deixou de dar uma voltinha pelas ruas antes de nos levar à casa que tinha disponível.



Um cicerone que ia revelando as curiosidades dos sítios por onde passávamos. Contou-nos ter feito a sua vida em Lisboa como empreiteiro. Quando se fartou, voltou para a terra e dedicou-se, mais a mulher, a colaborar e gerir umas casas para alugar. Não lhe faltava com que se entreter.
Neste percurso, as pedras ganharam outra importância. Era ténue a diferença entre pedra e casa, quanta da pedra se tinha tornado casa, onde estavam as casas no meio das pedras.
Quando falarem em partir pedra...tenham alguma consideração.
O jogo continuava.
Tentar encontrar para além do casual, a relação entre pessoas, pedras e casas e o que mais surgisse em formas sugestivas.





A casa da Irene...


Com a Irene e tudo.


Gente que faz falta para humanizar um espaço tão austero para quem vem das cidades. Perguntávamo-nos constantemente como é que aquelas pessoas viviam por ali.
Gente que tem por dentro o que falta por fora. Aquecem as pedras com simpatia e sorrisos.
Já chegava para o Sr. Peixoto. Levou-nos à casa que tinha herdado duma tia. O piso superior estava ocupado mas o rés-do-chão tinha sido arranjado para alugar e ganhar mais qualquer coisa (45€).

Vimos lá dentro o que se tinha ganho à rocha, à força de força, 3mt/1500€.


A casa, é a que fica mais perto daquela torre que se via de lá de baixo.
Subimos ao penedo que serve de base à torre e olhámos a Serra da Estrela, que crescia ao longe em tons de cinzento até onde a vista alcançava.
O relógio da torre tocou as 6h, DONG, DONG,...mau,...repetiu,... pior!
A paisagem a levar-nos na distância, a fazer-nos voar e cairmos no chão com seis DONGADAS impiedosas e ainda mais seis...
Só mesmo para quem gosta.
Uma casa ao lado da torre do relógio ainda por cima gago. Isto é obra do Chifrudo com a ajuda do Sr. Peixoto que calou a desgraça.
Está feito!
- Onde é que nos vamos entreter até à meia-noite e cinco pelo menos e a precisarmos de dormir quando cairmos na cama.

Uma coluna de fumo crescia rapidamente enchendo o céu, enchia também os pensamentos com questões que ninguém entende e o coração com angústias, com emoções de horror, raiva, desalento e frustração.

Olá,

Conheço muito bem a beira interior, e também tive o prazer de ter um anfitrião a mostrar as caras nas rochas, contudo digo-te que falta aí o presépio completo e o ... falo . Não sei se era eu um pitosga ou se as gentes de Monsanto têm muito tempo livre e muita imaginação...

Obrigado pela partilha! +1M

Ab

Leonel boas!

Brilhante prosa com fotos a condizer!
Também lá estive em Junho https://motosedestinos.forumeiros.com/t2178-pinhal-interior-e-arredores?highlight=pinhal e curiosamente também arranjei um cicerone!
É uma zona que pretendo voltar!
Saia um big
Abraço e boas curvas!

O senhor das pedras também estava por ali.
Disse-nos que o fogo era nas Samarras e que para a direita já era tudo Espanha.
Apontou para umas pessoas, que pequeninas, se viam ao longe por baixo dos penedos, caminhando pelas veredas para visitar o castelo. Aconselhou-nos a fazê-lo pela encosta contrária, a Sul, e na manhã seguinte pela fresquinha.
-Ah…, lembrou-se de repente, a terra do vinho é o Samouco.
Eu a viver a 3Km, nunca imaginei que o Samouco tivesse algum vinho digno de nota.
Quanto a água já é diferente…
O que eu andei a perder.
Mal arrumámos as coisas fugimos dali. Queria ouvir as catorze o mais ao longe possível.
Tínhamos o "filho da escola" para visitar e umas quantas ruas para calcorrear, despertos para outras armadilhas que pudessem aparecer.


Incêndio…, para mim era um fumeiro com presuntos e chouriços...


"C'm in..." Recusámos o convite, fica para a próxima...

Cada qual gosta das plantas que gosta. Estas vestem-me muito bem.


A minha Paulinha preferiu estas.


Fomos visitar o “filho da escola” ao seu restaurante, o “Petiscos e Granitos”.
Já nos tínhamos encontrado no mesmo navio, por pouco tempo, durante as rendições. Eu a chegar e ele a sair.
Acalmámos a sede com uma imperial enquanto acertávamos as agulhas.
A sala de entrada era pequena, decorada com versos e prosa escritos pelas paredes, a guardar impressões do ambiente serrano, da terra e do restaurante.
A mais pequena, escrita pela filha, por detrás do balcão num rebaixo da parede e entre prateleiras foi a minha preferida, “Monsanto é uma pedra”.
Reservou-nos uma mesa para o jantar. Ainda bem pois só havia três ou quatro mesas na sala.
Deixámo-lo na sua azáfama, que isto de ter restaurantes é uma escravidão e saímos à procura do que mais aparecesse.
Andámos 10mt e fomos convidados a beber da água que jorrava duma parede.
Com o calor que fazia já a imperial se tinha evaporado. Aquela aguinha leve e fresquíssima soube-nos maravilhosamente.
Entrámos logo a seguir na “Taverna Lusitana” para continuar com a hidratação e fazer tempo até ao jantar.
Outra “impria” numa esplanada deslumbrante, a acompanhar o pôr-do-sol e o pôr do fogo.





A esta distância até podiam ser 50...na casinha ao lado é que era pior.






As cores não eram as de um entardecer normal. O bom do mau...



Quando decidimos jantar descemos os penosos 15mt em sentido contrário.
O João andava por ali ocupado e pediu a um empregado que nos conduzisse à mesa que nos tinha reservado. Olhei à volta da pequena sala para adivinhar qual seria enquanto passava a vista pelos escritos nas paredes.
Fomos conduzidos para uma escada. Desce um nível para onde está a cozinha e dá para uma porta para o exterior.
Quando passei a porta, grande Dongada, mas esta vinda de dentro.



A nossa mesa ficava a este nível num estreito patamar, entre a parede de rocha nua e a balaustrada que prevenia uma queda acidental.
Uma escada dá acesso ao piso mais baixo por onde passavam os empregados, malabaristas da travessa e dos copos num discreto corrupio entre as mesas e a copa.
O “filho da escola” reservou-nos a melhor das mesas, perto da cozinha e com uma panorâmica maravilhosa.

A inevitável preocupação da escolha. Tanta coisa boa…




Tínhamos que ir com calma, aquele jantar era para durar até nos porem na rua. O relógio da torre não dorme…
Não havia pressa nenhuma. O entardecer tinha quebrado o calor do dia, estava-se tão bem.
O pôr-do-sol enchia de cores o céu. Além disso comer depressa faz mal e não se pode beber o vinho à mesma velocidade que se bebe a cerveja.

A mesa do canto…sem comentários.

Vimos cair o dia e entrar a noite.
Entre o branco para as entradas e prato de peixe e o tinto para as bochechas à não sei quê, passaram as horas.
O horizonte era agora negro com pequenas ilhas de luzes amareladas.
Gratas recordações nos conduziram numa imaginária aproximação a baixa altitude ao arquipélago dos Açores.
Numa viagem em 2006, num pequeno veleiro até aos Açores, avistámos São Miguel ao romper da madrugada.
A sombra que apareceu salpicada de luzinhas fez-nos pensar na alegria que teriam os navegadores de antigamente por terem acertado na ilha.
Caso não acertassem, como são nove com sorte esbarrariam noutra.
Ao fim de seis dias de mar, em que os dias já eram marcados pelo nascer e pôr-do-sol, a magia repetiu-se. A ilha existe e acertámos nela.
Passados uns dias, numa passagem nocturna, foi quando encontrámos a imagem inspiradora ao passar no meio do Canal.
A estibordo montinhos de luzes de São Jorge, a bombordo os do Pico e à proa, ao longe, os do Faial.
Ali sentadinhos a saborear os digestivos e a fazer render o tempo, encontrámos as ilhas todas e mais algumas. De vez em quando passava um navio…

Ouvimos as 6h, ou melhor as 12. Tempo para acordar devagar e começar a preparação para o assalto ao castelo.
Pequeno-almoço de fruta e água, máquina fotográfica para registar o que apetecesse e sair para um dia luminoso que se adivinhava quente.
Seria um dia condimentado; era Monsanto com a luz da manhã, a escalada, o calor, a História e as pedras que de certeza teriam muito a sugerir ou a revelar e lá mais para a tarde o encontro com o 66666…
Encontrámos o senhor das pedras a falar com outros visitantes, a transmitir-lhes seguramente algo de informativo ou curioso.
Fiquei a pensar como este homem desenvolvia esta actividade para ocupar o tempo e suprir a possível solidão ou necessidade de comunicação. Prestava-se um bom serviço sem recorrer a lares ou centros de apoio, cuidava da sua saúde física e mental e oferecia a estranhos conhecimento e hospitalidade. E que bom que foi não sentir a insinuação, não ouvir as palavras “dirham”, “peso” ou outra qualquer e apenas lhe dever um obrigado e retribuir a simpatia. Tristemente, até nisso, nós os beneficiários somos pobres preferindo muitas vezes sair com um sorriso hipócrita e condescendente…

Continua a não faltar motivos que chamam a atenção pelo singular, pelo simples registo da imagem e pelo insólito.




A luz, as texturas, as formas e as linhas obrigam a máquina a saltar com frequência.






E depois, a mania de ver coisas nas formas das pedras…


Na envolvência do castelo aparecem várias edificações, agora isoladas, quase destruídas que despertam a vontade de ter conhecido todo o conjunto e de ter andado por ali com as gentes das diferentes épocas.
Muitos “tempos” passaram por ali modificando, construindo, destruindo e reconstruindo consoante as necessidades.
Para o Cronos implacável é só uma questão de tempo até tudo voltar ao chão.
Da pedra se faz forma, da forma saem ideias.

Gostei daqueles olhos a espreitar…


Olhei-o nos olhos e fez-me esta cara de envergonhado e comprometido…


Levantei-me só para tirar a fotografia.
A minha Paulinha é que não gosta nada de se sentir a apertada…


Eu sei que continuava com a pedra das pedras, mas aquelas tartarugas mereciam uma foto.


E a rocha e o cão e o arco. A natureza, a sugestão, a obra.



- Pronto!! Já chega.
- Vamos descer, arrumar as coisas, pagar ao Sr. Peixoto e fazermo-nos à estrada.
Já na saída, numa das ruas encontrámos o Senhor das pedras cujo nome não sei. Parei para me despedir e lhe agradecer.
Nem sei o que lhe agradeci, só sei que foi a personagem que tornou este fim-de-semana numa pedra.
Já estava calor demais e se aqui estava quente, fará em Espanha…
Pouco importa, vamos dar a volta aquela imensa mancha azul que alimenta o Tejo, que já apetecia ver água.
Disseram-nos que a seguir a Penha Garcia havia um restaurante que servia um belo cabrito assado e como ficava a caminho de Monfortinho que também queríamos conhecer, saímos em direcção ao “Embalse de Alcántara”.
Não falo do restaurante porque não tinha cabrito nem outros pratos realmente típicos. Vimo-nos reduzidos a cerveja e bifinhos com cogumelos e ainda por cima depois de recomendar que fritassem melhor as batatas, a travessa teve que voltar mais duas vezes para que estas deixassem de parecer cozidas em óleo.
Só gente doida é que sai para a estrada de mota com mais de 40º às três da tarde para fazer umas dezenas e Km’s, entrar pelo “Alentejo espanhol” ardente, procurar alguma frescura psicológica numa imensa represa e não largar o conta Km’s com receio que o número aparecesse de repente.
Isto já era fixação.
O Avô do Chifrudo cobrava a sua parte.

Por perto rodopiava uma “tromba de pó”, chamam-lhe bruxas em Trás-os-Montes.


Subimos até Zarza la Mayor com uma paragem para hidratação. Contornámos o “Embalse” pensando reabastecer antes da fronteira, entrar por Marvão e seguir para casa.
O calor e a paisagem não ajudavam. Salvo algumas áreas mais irrigadas a Norte, o azul da água não compensava o castanho seco e pedregoso das margens.
Onde é que nessas margens a água era fonte de vida? Onde é que estavam as árvores, os arbustos, as ervas?

Um torpor instalou-se, não sei se cansaço, sono ou desânimo.
Tínhamos que parar em breve para sair do sol, beber e descansar ou dormitar. O número aproximava-se…



Em Navas del Madroño parámos num pequeno parque desportivo.
Encontrámos o desejado lugar com água, cerveja, sombra e calmo suficiente para deixarmos fechar os olhos por um minuto. Pena não ter um cafézinho.



Vimos num mapa que a seguir a Villa del Rey viraríamos à esquerda para Valência de Alcántara para reabastecer, a ver se apagava aquela luz amarela que já me estava a obrigar a uma condução mais lenta e criar alguma ansiedade.
No entroncamento apareceu uma placa a indicar Portugal para a direita. O discernimento já não conseguiu contrariar a indicação, consumido pelo calor, pela luz amarela e pelos sessenta e seis mil seiscentos e cinquenta e qualquer coisa km’s.
Alcántara merecia uma paragem, mas vai ter que ficar para outra vez. Nem para reabastecer parámos porque pensei que estava no caminho certo.

Esta perspectiva afunilou os tempos e ainda fez mais confusão.


Quando passámos a fronteira, todo o sono e cansaço se tinham convertido em cuidado.
Entrámos em Portugal a acompanhar a contagem decrescente e o ponteiro do combustível que estava quase sobreposto ao último traço branco.
Entrámos no “filho da mãe” do número.
- Vou parar numa sombra e guardá-lo para a posteridade, mais cem metros.
A Paula bate-me no ombro e diz-me.
- Nelo, a máquina fechou-se!
- Caraças!
Ando sempre com duas baterias, já estava na segunda mas nunca imaginei que ia ficar sem energia. O filho daquela que salta e berra no alto da serra não facilitava.
- Sai lá Paulinha, deixa-me chegar à mala.
Fui ao casaco buscar o telemóvel que tinha desligado porque estava com pouca carga e poderia ser preciso para alguma emergência.
Liguei-o, carregou o software e mostrou-me dois tracinhos.
- Vais levar dois tiros grande ca****!!
Tchlick e mais tchlick.
TOMAAAA!!! APANHEI-TE!!!



- O sacana ainda vai estrebuchar e vai fazer-me andar para arranjar gasolina. Quero lá saber, até estou a precisar de desentorpecer.
Devagar, devagarinho fomos andando.
Mais à frente estava parado um carro da GNR atrás duma carrinha. Perguntei ao que estava a escrevinhar nuns papéis onde podia encontra uma bomba.
- Em frente, a três Km’s fica a Zebreira, tem lá uma bomba aberta logo à entrada da vila.
- UFF, obrigado Sr. Guarda.
Depósito cheio, A23, A1, e enrola o punho que se faz tarde.
O calor ainda apertava, tive que ligar o ar condicionado para gozar o fresquinho da velocidade e chamar batatas aos enlatados que entopem as faixas da esquerda. Nem ultrapassam nem saem de cima.
Por aí abaixo foi um tal inventar curvas na auto-estrada para manter a temperatura corporal…

Gosto da maneira como contas esta viagem! Ri-me à brava agora no final a tentar apanhar o nº da besta! lolololol

Dass Legasea, pareces o Eça!!!!!!!!!!!!!!!!

Consegui ver tudo, até a Pedra!!!!!!!!!

Levaste com 1 M

Das crónicas mais bem escritas que li... se fosse uma viagem de 5 dias tínhamos um livro

Parabéns pelo excelente relato cheio de fotografias espectaculares.

Mais um

Um abraço.

Parabéns pelo relato...

Ehehe...ainda me lembrava, mas foi bom recordar...bela prosa e belas fotos...

E a K, está a fazer companhia á R1150, ou foi á sua vida??

Excelente reportagem,

Trophyvitor escreveu:Ehehe...ainda me lembrava, mas foi bom recordar...bela prosa e belas fotos...

E a K, está a fazer companhia á R1150, ou foi á sua vida??

O que é que achas?

Gostei muito!

e "mainada"!

legasea escreveu:

O que é que achas?

Eu por acaso achava que a tinhas guardado... ...esteve para ser o upgrade á Trophy, mas depois achei que era um bocado "grande" demais...mas acho o motor fantástico...

Bom relato e boas fotos!

Esta pedra está uma moca . Para quem quem não é de escrita fácil está magnífica...

Ainda passei um bom bocado a tentar descobrir as figuras...sitio fantastico e excelente descrição.

Adorei o passeio!

A visitar sem dúvida!

Excelente crónica, obrigado pela partilha!
Boas curvas

Espetaculo, recordar é viver sim senhor....

Que bela Pedra senhor Leonel

Obrigado por manifestarem o vosso agrado.
Pedras, são pedras e em cada qual salta uma quando menos se espera.
Neste relato, não há ficção sem contexto. Entenda-se que não se inventa, revela-se o que surge na imaginação duma forma expontânea perante os motivos que se apresentam.
Isso foi o engraçado.
A trabalheira de conseguir ordenar tudo; recuperar as idéias, contextualizá-las com as fotos e manter o fio dos raciocínio, até a mim surpreendeu.
Valeu a pena.

Relatos assim partilhados, cada vez mais enriquecem este nosso cantinho.
Obrigado
Abraço

Obrigada pela partilha desse passeio


belas fotos