Egg Run 2011 – Um pequeno gesto de uns, uma grande diferença para outros

Quando chego às imediações da praça de toiros de Vila Franca de Xira, já lá estão muitas motos. E continuam a chegar mais e mais, até o espaço abarrotar de voluntários para a acção de solidariedade organizada pelos Star Riders de Portugal, já na sua 6ª edição.

O dia oferece-nos um sol brilhante que aquece ainda mais a expectativa dos participantes, muitos motociclistas que contribuíram com diversos bens ou que simplesmente aderiram ao apelo dos organizadores para espalhar um bocadinho de amizade a um conjunto de crianças, habitantes de instituições de solidariedade social, à espera de um lugar no coração de alguém.

Pelas 10:30h partimos rumo ao destino, com a polícia a abrir caminho a uma comitiva de centenas de motos, uma lenta coluna que atravessa a Vila, a apitar e saudar os espantados transeuntes que retribuem com acenos. Entramos no parque de estacionamento do estádio do Alverca. Fico surpreendida com o que vejo. Um espaço enorme, bem delimitado em áreas divididas com fitas, indicação do local de estacionamento das motos, uma zona cheia de caixas de cartão alinhadas e identificadas com o nome de cada instituição que se vai apoiar. Ao fundo um grupo enorme de pequenitos arregala os olhos ao ver tantas motos e tanto barulho.

Estacionamos alinhados numa marcação ao longo do parque. Rapidamente as crianças e os adultos misturam-se em conversas e abraços. De entre a massa humana sobressaem garotos lambuzados de bolos e copos de sumo, os braços carregados de livritos do Noddy e sacos de guloseimas. O brilho acende os olhos da inocência, correm de um lado para o outro excitados, mostram uns aos outros as conquistas da manhã. Olham para cima, para os crescidos com máquinas muito grandes, a princípio meio desconfiados, depois com enormes sorrisos. Respondem às perguntas meio envergonhados. Espreitam e apontam para as motos, cromados reluzentes, plásticos coloridos, grandes ou pequenas, são muitas as marcas e modelos que responderam à iniciativa.

Junto a uma das marcações do espaço começam a alinhar as crianças, em grupos de instituições onde vivem. Os motociclistas arrumam-se como espectadores, formam um corredor de embarque. Vai começar o baptismo dos pequenos. Meia dúzia de voluntários começam a levar os garotos para um passeio de moto à volta do parque de estacionamento. Os miúdos são sentados nas motos pelos responsáveis ou por membros da organização. A palavra é:

Segura-te bem!

Olhar temeroso, crispam as mãozitas nos coletes dos condutores, tremem de excitação, receosos mas aventureiros. As motos arrancam. Cabelos ao vento, velocidade lenta, sorrisos rápidos. De repente vejo uns olhos faiscantes de alegria e um sorriso rasgado. Depois outro e mais outro. Cabecitas a espreitar pelo ombro do condutor, peito espalmado nas costas dos motociclistas, as pernitas mal chegam aos pisa-pés. Um desfilar de motos sorridentes volteia pelo parque. Regressam ao ponto de partida, sobem outras crianças. Os que já experimentaram agarram-se às educadoras e contam a aventura com palavras atropeladas. Os que ainda não foram, ouvem os felizardos, esticam os braços e esperam ansiosamente. Os mais renitentes estão convencidos. Pára outra moto, sai um petiz à força, entra outro a saltar.

À meia dúzia de motos pioneiras juntam-se mais motos, cada vez mais todos querem participar, o vírus do baptismo espalha-se, motores a trabalhar, a fila de voluntários é cada vez maior, o corredor de embarque está cheio de pequenos passageiros a entrar e sair das motos. Às voltas no parque de estacionamento, as bandeiras de alguns moto clubes ondulam ao sabor do vento da felicidade das crianças. … Quem é que ainda não andou? … Eu, eu, eu … bracitos no ar, chamam a atenção, uns vão pela primeira vez, outros já repetem.

A excitação é contagiosa e já não são apenas os garotos a querer andar à pendura. Também os adultos entusiasmados com a brincadeira, querem brincar. Vêem-se as educadoras a subir às motas, os motociclistas à pendura uns dos outros, todos querem participar no carrossel giratório. Adultos, crianças, motores, bandeiras, tudo é alegria, todos brincam. Já só restam poucas motos estacionadas, todas circulam, todos sorriem, os petizes nem sabem para onde olhar, gesticulam, querem experimentar mais e mais, os adultos voltaram a ser crianças, apitam contentes, alimentam o carrossel, voltas e voltinhas, largam um apanham outro, aceleram os motores, risos, barulho, apetece-me ter uma cabeça giratória para conseguir ver tudo. É vertiginoso.

Confesso que nunca tive tanto orgulho em ouvir os motores acelerados, os escapes a trovejar. Inspirada pelo ambiente, com as lágrimas a quererem saltar, preciso de gravar todas as emoções. Olho em volta à procura de papel. Encontro uns cartazes do nosso campeão Helder Rodrigues. As costas do papel são brancas e rapidamente ficam gatafunhadas de sensações, escritas à pressa, ao ritmo da onda de boa vontade dos campeões do Egg Run.

Lentamente os ânimos acalmam. As motos vão estacionando outra vez, as crianças sentam-se no chão, cansadas e felizes. Mas levantam-se de novo, estão a chamar para distribuir os brinquedos que saem daquelas caixas misteriosas que, pacientemente, assistiram à festa. Já não há braços para segurar tanto comboio, peluche, casas de bonecas, jogos. O tempo passou a correr, é tarde, o sol escalda, está na hora de acabar.

Ouço as conversas dos crescidos, afogueados de calor, contentes por participar. Trocam impressões, tiram as últimas fotos. Ali ao lado alguém explica que as dádivas maiores foram entregues durante a semana. Várias empresas contribuíram com donativos, os Star Riders angariaram algum dinheiro e ofereceram às instituições diverso material, desde mobílias a electrodomésticos. É tempo de ir ao almoço. Espontaneamente formam-se cadeias para carregar as carrinhas das instituições com as caixas que sobram. Entram os miúdos, vão-se embora. Os motociclistas também vão partindo. No grande terreiro dos acontecimentos sobram os organizadores e alguns voluntários a apanhar os embrulhos dos presentes, a arrumar as grades, as fitas. Aos poucos não há vestígios da festa. Mas o ar continua a cheirar a amizade, aquele espaço agora vazio continua cheio de sensações, vultos de crianças pequenitas e de crianças crescidas preenchem as minhas recordações.

È bom fazer a diferença, poder tocar na vida de outros. É ainda melhor dar, oferecer um pouco de alegria, encher o coração de boa vontade. A comunidade motociclista tem uma capacidade gigantesca de mobilização dos seus membros. Hoje foram os Star Riders de Portugal, amanhã é um outro grupo. Mas sempre motociclistas, sempre as melhores pessoas que já conheci, sempre unidos.

Apenas dizer que é um evento que não penso perder nos próximos anos!

Simplesmente... fantástico este evento e o relato nada fica atrás

"V"

Óh comadre é um prazer ler as tuas crónicas,emocionei-me ao recordar aqueles sorrisos lindos.Foi muito bom ter participado neste evento e é um privilégio conviver contigo.
Parabéns e
Agora vou-me esmerar para que o video não fique muito aquém da reportagem.
Beijocas
izaloureiro

Uma excelente ilustração narrativa.
Mérito pela pela participação, pela partilha e pela qualidade do texto.

Grande crónica.
adorei ler
Grande Abraço

Grande Paula, acabei de ouvir este "TEXTO" no BURN.

Belo texto.

Parabéns bjs.

papagaio73 escreveu:Grande Paula, acabei de ouvir este "TEXTO" no BURN.

Belo texto.

Parabéns bjs.

"V"

fico feliz pelo que li obrigado Paula pela partilha

Como sabes todos ouvimos as tuas palavras emocionadas no Burn relatando aquilo que todos sentiram. Obrigado
Ainda bem que és minha comadre Bjks.

Foi pena não reproduzires a bonita entrevista que me fizeste Heeeee

Sim; sempre a inovar e a encher-nos de orgulho a este grupo dos 4 que por essas estradas vão espalhando a amizade, solidariedade, e boa disposição.
Uma beijoka e obrigado por pertenceres á nossa família, Tónica para ti
Correia no resto do mundo.

Eu é sou uma sortuda....
Beijocas
iza

lindo texto.
este ano não pude ir,

ohhh Zabelita,

está fantástico!!!

Obrigada



PS: Fábio, obrigada por teres editado o espaço reservado à IZA (só agora consegui ver o video - o youtube está bloqueado no meu escritório)