O caso do Ogre muito nabo salvo pelo espírito motero

Conto aqui um pequeno caso de que me envergonho, como mecânico que faz grande parte da manutenção da moto, mas que felizmente acabou bem.


This case was protagonized by a biker that is a complete asshole bike mechanic riding a gorgeous but temperamental Italian bike,
If you ride a standard German or Japanese bike serviced by an official dealer that won’t happen and it’s not dangerous for your pride.

Sábado, 23 de Abril de 2011, véspera da Páscoa.
Estava na fase final de uma viagem, para esse dia seriam quase 800km, desde La Rochelle (França) até Navia (norte Espanha).


Acordei cedo e fui comprar uns Macarrons para levar para a Páscoa. As lojas de chocolates em França são deliciosas.


Tinha colocado um kit de transmissão novo antes de viagem, já tinha feito mais de 4000km e já devia ter de afinado a corrente antes,
Já notava que a corrente estava um pouco solta, ao acelerar em 1º e 2º já se sentia um pequeno esticão,
tinha trazido as ferramentas necessárias para afinar a corrente, perto de St. Jean de Luz resolvi parar e afinar a corrente.

Com a moto no descanso lateral e sem poder rodar a roda não é fácil afinar a corrente,

sabia que a distância da corrente ao braço oscilante é entre 39 a 41mm mas não tinha instrumento de medição de modo que foi a medido a “olho”.

Feita a afinação, fui ver St Jean de luz, o que recomendo fortemente a quem fôr para aqueles lados.
Duas panorâmicas



E como estava na hora de almoço, procurei esplanada com vista para a baía.

foram umas “moules à la créme avec frites, pain et biére”

pelo que me apercebo, em viajem como um pouco melhor que a Gracinda e a Paula nos dizem, … mas nada que se pareça com o Elísio

Sigo viagem pela Autovia del Cantábrico, junto ao Atlântico e com vistas fantásticas.


Pelas 16:00 Estava em Torrelavega (perto de Santander), quando de repente
CLAC ….
Fiquei sem tracção, … toca a aproveitar a velocidade para encostar à berma,
Nesses momentos passam-nos no pensamento imensas coisas, mas a melhor é “estou vivo e inteiro” , ufff, … e deppois ficamos a tremer
…
(uns momentos para recompor do susto)
…


A corrente partiu, já sabia pois não sou virgem nesta situação.
Foi buscar a corrente ao meio da estrada uma centena de metros atrás. Partida em dois sítios.

A tampa do cárter foi atingida pela corrente e partiu, óleo do motor começou a pingar na estrada.


Vi logo que ao afinar a corrente ficou muito esticada, que nabo que fui

Estou f#d%d&, lá se vai a cabrito de Páscoa que estava a pensar para o dia seguinte.
Estou a uns 600km de casa, sábado de Páscoa em Espanha está tudo de “semana santa”.
Linda Páscoa que vou ter.
…
(15 minutos de pausa para pensar no que vou fazer)
…
Resolvi ligar para a assistência em viagem,
Depois de ligar para a LOGO e ser muito bem atendido pelo Frederico, o reboque ficou de aparecer dentro 45 min.
Enquanto esperava pelo reboque, passaram alguns motociclistas, um deles passou no mesmo sentido que eu ia viu-me e foi dar volta na primeira saída voltou no sentido contrário, parou do outro lado da estrada e veio ter comigo.

Perguntou-me o que se tinha passado, olhou para os estragos e disse-me que era mecânico de automóveis conhecia um mecânico de motos ali de perto, e que podiam reparar a minha moto.
Eu olhei para a tampa do carter que estava partida e fiquei com dúvidas , mas a hipótese de seguir viagem nesse dia e chegar a tempo do cabrito da páscoa entusiasmou-me.
Ok disse eu.
Chegou o reboque.

Telefonei ao Frederico a dizer que ia tentar reparar a moto.
E lá fomos para a oficina


A oficina de motos era espectacular, bem equipada, base de um piloto do campeonato espanhol de velocidade, estavam nas bancas duas lindas clássicas,: uma VFR400R e uma Bultaco Metralla.


Desmontamos a tampa do cárter,

era este o aspecto.

Mãos à obra, o araldite/metal liquido faz milagres.
Não tínhamos elos de corrente com a mesma dimensão 530, pelo utilizamos uma rebarbadeira para fazer um elo a partir de uma corrente de outra largura.

Pelas 19:30 a reparação estava pronta.
Convidei os mecânicos para umas “copas y bocadillos”


Telefonei para o Hotel onde ia ficar, que ainda ficava a uns 200km, para informar que iria chegar tarde,
e ”on the road again”
pelos lados dos picos de Europa começou a chover e nevoeiro, não via nada, a paisagem era fantasmagórica.
Cheguei pela 1:00 da manhã ao Hotel, que fica num sítio com este nome.



No dia seguinte (Domingo de Páscoa), tinha que fazer uns 400km e chegar a tempo de cabrito e estar com a família.
Cheguei.
Home again.
Mesmo a tempo de ir para mesa

e para ocabrito, com arroz e batatas no forno.


Muito obrigado ao Fidel Gomez (o espanhol que parou e me ajudou seguir viagem) e ao outro mecânico.

AS: Não vou entrar em picanços!

Mas, se não tivesses corrente isso não te acontecia...
Comeste o cabrito com a família e experimentaste a solidariedade motard, o que vale muito.
Abrolhos é como se chama e acontece a todos os que querem gostar mais das suas motas.

Excelente relato, por vezes os imprevisto têm coisas boas.

"V"

Fantástico relato de solidariedade motard... Gosto que é como quem diz mérito.

PS :É esta solidariedade que os apenas automobilistas desconhecem...

Eis a diferença do espírito motard, Excelente!

E ainda está com a Araldite?

legasea escreveu:E ainda está com a Araldite?

Já leste o "Zen and the art of motorcycle maintenance" de Robert Pirsig?
recomendo.

Uma das coisas que aprendi o fim de semana passado em Avis, com e LercasMan, foi sobre a moral de uma estória de um sujeito que vendeu uma mula excepcional ....


bem, ainda está com Aralditge e não verte nada mas já encomendei no eBay uma tampa nova (usada)

Boas

ainda há pessoas boas...

quem sofreu foi o cabrito .

abraço

O portugues tem sempre sorte e tu és um deles belo relato

excelente relato de uma bela aventura..

É tenebrosa a tua escolha dos locais para pernoitar, quanto ao resto também me passaste a mensagem com muita moral. Não mexer na corrente!

Diz mal da tampa...diz! Nova em folha!

Já tens
Abraço

Grande relato... pois eu de mecânica sou pouco mais que um zero à esquerda

Felizmente o espírito continua bem vivo entre os motociclistas

É uma frase mais que batida, mas ... no meio de tanto azar, até tiveste sorte!!!

Nem quero imaginar o susto que deves ter tido... Quanto não vale andar em duas rodas... se fosse de carro vinhas de reboque até Portugal

Mas agora deixas-me preocupado... ainda hoje afinei a corrente... e também foi sem cavalete... amanhã vou confirmar melhor para ver se está apertada demais

Mais um

Um abraço.

v2_shrek escreveu:

Já leste o "Zen and the art of motorcycle maintenance" de Robert Pirsig?
recomendo.

Uma das coisas que aprendi o fim de semana passado em Avis, com e LercasMan, foi sobre a moral de uma estória de um sujeito que vendeu uma mula excepcional ....

Por acaso, e' a minha leitura de cabeceira neste momento.... e agora que cada vez que pego na mota, encosto as maos no motor para "sentir" a temperatura....tb tou a gostar bastante...

Quanto a tua estoria....efectivamente a solidariedade e' uma coisa fantastica!!

Para quem afina a corrente sozinho o mais dificil e q a folga deve ser vista com o peso do condutor em cima, e quando estamos em cima da mota e dificil conseguir ver....pede ajuda a alguem, Ricardo....

É por esta razão que eu não afino a minha corrente

Ainda dizem que os Espanhóis são mal encarados e não sabem receber, se calhar em Portugal não eras tão bem tratado.

carlosrosa escreveu:É por esta razão que eu não afino a minha corrente

Ainda dizem que os Espanhóis são mal encarados e não sabem receber, se calhar em Portugal não eras tão bem tratado.

Eu acho que isso é um preconceito português... quando fui lá de mota disseram-me para ter cuidado com os polícias que eles faziam a vida negra aos portugueses... sinceramente só tenho a dizer bem, na altura não sabíamos o caminho para Barcelona e acabamos por ser escoltados até à estrada correcta...

É como nós... há excelentes pessoas e péssimas pessoas.

Um abraço.

Trophyvitor escreveu:Para quem afina a corrente sozinho o mais dificil e q a folga deve ser vista com o peso do condutor em cima, e quando estamos em cima da mota e dificil conseguir ver....pede ajuda a alguem, Ricardo....

Eu na Hornet também fazia com o peso do condutor em cima... mas no livro da Triumph diz que é com a mota sem ninguém e sem carga... estranhei por acaso...

Um abraço.

Grande crónica, adorei!!!

Até fiquei com a ideia de que fizeste de propósito para a corrente partir e assim teres uma história para fazeres mais uma crónica!!!!!!!!!!!

M atribuído!

rjvieira escreveu:
Eu acho que isso é um preconceito português... quando fui lá de mota disseram-me para ter cuidado com os polícias que eles faziam a vida negra aos portugueses... sinceramente só tenho a dizer bem, na altura não sabíamos o caminho para Barcelona e acabamos por ser escoltados até à estrada correcta...

É como nós... há excelentes pessoas e péssimas pessoas.

Um abraço.

Como já tive oportunidade de deixar nos meus apontamentos, da policia Espanhola tenho a dizer que me mandaram para com razão pelo fecho da mota estar a tapar a matricula e assim que perceberam que me preocupei em corrigir a posição do mesmo, mandaram-me usar o dinheiro da multa para pagar um "rico almueço à chica"!

Ora aí está mais uma (ou melhor)2 liçoes de vida.
Como disse e muito bem o Carlos rosa... Se fosse cá...............................

Episódios que apesar do transtorno valem a pena viver, faz-nos lembrar que ainda há gente boa neste mundo
Fora isso a viagem parece ter paisagens muito boas, mais um grande percurso para me inspirar num futuro não tão distante para mim!

Quanto aos Espanhóis, para mim são como nós, há gente porreira e outros nem tanto, na passagem de ano fui daqui para Monte Gordo e no dia 1 de Janeiro deu-nos na cabeça de ir Jantar a Sevilha e dar uma volta por lá, tudo impec, bem recebidos por toda a gente, esforçaram-se para perceber o nosso rasco Espanhol, e quanto a Polícia, ia de Ford Transit de 89 e não tive problemas nenhuns! Enquanto que em Albufeira na Kadoc em Agosto vi uns a serem bastante arruaceiros.. é como tudo, vai das ocasiões.

Este é um grande exemplo do espírito motard.

Ainda este ano tive um azar a caminho de coimbra, a minha montada avariou e tive que parar em plena AE, após alguns minutos 3 ou 4 companheiros disponibilizaram-se de imediato para dar uma ajuda no que fosse preciso.

Cumps.
José Paulo

Muito bom relato! Pessoas assim tornam o mundo verdadeiramente num lugar melhor. E mereceste a boa ajuda do sr. espanhol, bem me lembro que quando eu andava à procura dum suporte para a topcase foste o primeiro a partilhar uma boa solução. Não era exactamente o que eu procurava, mas o teu gesto de ajuda revelou a tua boa natureza! Obrigado pela partilha e muito boas viagens no fantástico V

Cucu!

É uma sorte saber-se de mecânica, há coisas que podes fazer tu mesmo!
É um azar porque pode correr mal!
Volta a ser sorte quando se encontram as pessoas certas no meio do azar!

Eu tenho boa impressão dos espanhóis, costumo responder a quem diz que o povo português é o mais simpático do mundo "quantos povos do mundo conhece?"

v2_shrek escreveu:

pelo que me apercebo, em viajem como um pouco melhor que a Gracinda e a Paula nos dizem, … mas nada que se pareça com o Elísio

Pelo que me apercebo, tens lido mal os meus comentários à comida!
NUNCA disse que comi mal na Europa, muito menos em França ou Espanha!
Apenas me queixei este ano da Inglaterra, mas lá, aquilo nem comida é!

Beijucas